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terça-feira, 8 de junho de 2010

Além das aparências

Decididamente quem vê cara, não vê coração! Nem vê a alma, nem o desespero, muito menos a solidão. Quem vê cara, não vê os nós na garganta, os pelos arrepiados de medo ou hesitação, quem vê cara, não vê coração! Não que essas coisas não sejam transparentes, mas o que as outras pessoas gostam mesmo são das evidências. Para muita gente, se sorrimos é evidente que estamos felizes e ponto final, não há razão para ir além e na verdade a maioria das pessoas simplesmente se esquecem que somos e existimos muito além das aparências. Quantos sorrisos travados na arcada dentária já não demos? Aquele preso, sentido, porque qualquer movimento pode por tudo a perder e desmontar a aparência de pessoa feliz? Quantas vezes respondemos a frase: "está tudo bem?" com um automático "está tudo ótimo" e sentimos na garganta aquele nó, louco para desatar, para gritar "não, não está tudo bem". Aquele nó louco para acabar num abraço, num choro de libertação. Mas foi assim que aprendemos a ser. Aprendemos que os fracos não têm vez. Que não devemos chorar, não devemos demonstrar fraquezas para que os nossos inimigos não zombem de nós. Lamentável. Hoje, depois de tantas vitórias e tantas cicatrizes, faço a opção simples e despreendida de ser fraca, se assim for. Se bem que, pensando bem, é preciso ter muita coragem de ser quem se é e demonstrar a quem quer que seja, o que se carrega na alma. Obviamente não me refiro áqueles seres inanimados que vivem da própria tragédia, que se colocam no papel de pobres-inuteis-coitados e vivem à merce da caridade alheia, não! Defendo a coragem de deixar os olhos encherem-se de lágrimas quando alguém lhe pergunta fraternalmente se está tudo bem e definitivamente não está. Defendo a coragem de olhar nos olhos de alguém, falar a verdade, abrir a alma, o coração e a vida. Defendo a coragem que poucos têm de admitir que não é fácil e mesmo embora estejam tão doloridos e machucados, não abaixam a cabeça e nem usam-se disso para desistir, apenas seguem, chorando e sorrindo, levantando e caindo o caminho. Se bem que existe um fator importante aqui, os verdadeiros amigos. Para estes, não é necessário sequer falar. Ah! Mais um aprendizado, amigos verdadeiros são capazes de ver o coração. Mas estes, os tesouros preciosos, são raros e o cenário da vida abrange muita gente mais, gente que vive cada qual suas próprias preocupações, legítimas ou não, para querer saber o que se passa dentro de um coração fechado. A maioria pergunta “como vai você” ou “tudo bom” mais por educação do que por interesse em saber realmente como o outro vai. Faz parte do palco da vida onde cada qual representa seu papel. E quando as cortinas se fecham, fecha-se também o mundo em torno de si. A maioria das pessoas sentem-se sozinhas, choram sozinhas e oram em silêncio para que a solidão faça uma viagem para bem longe... Todo mundo parece tão preocupado com sua busca de felicidade, seu par perfeito, suas realizações... suas! Olhássemos nós um pouquinho mais para o lado e veríamos que não pode haver felicidade, ou perfeição, ou realizações se temos tudo, se conseguimos tudo, mas não conquistamos verdadeiramente um coração. As pessoas existem além das aparências, elas amam além das aparências, elas sofrem além das aparências. Elas simplesmente, são.
A gente aprende muitas coisas na vida, mas pouco aprendemos sobre olhar. Olhar dentro, pra dentro... fotografar em si as necessidades alheias e tentar supri-las com um interesse verdadeiro. A superfície engana tanto e tanto! Mas ninguém disfarça um olhar que brilha ou que chora. Existiria menos egoísmo e menos solidão se olhássemos mais nos olhos das pessoas, se compreendêssemos que para elas muitas vezes mais importante que um pedaço de pão é um pouco da nossa atenção.Um pouco de olhar pro nosso coração!
[Dani Arruda]

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